MORDOMIA SAO GONÇALINHO
A Mordomia de São Gonçalinho é o principal promotor e organizador, para além da Comissão de Festas da qual os seus elementos – os mordomos – podem também fazer parte, dos festejos em honra de São Gonçalinho. Estes são realizados anualmente no Bairro da Beira Mar, em Aveiro – Portugal, durante cerca de quatro a cinco dias, entre 7 e 14 de janeiro.
Os mordomos de São Gonçalinho “são os herdeiros de heranças antigas que de século em século, de avós para pais, de pais para filhos, de filhos para netos, de mordomos para mordomos, conservam intacta não só a tradição mas, sobretudo, o traço de um povo que no início de cada ano acorda os sinos para celebrar quem é” (Mordomia 2013-2014, 2013 as cited in Lamego, 2014, p. 60). São facilmente reconhecidos pela utilização do gabão de Aveiro: longo, de cor castanha. A Mordomia de São Gonçalinho assume-se, assim, sob a forma de “irmandade liderada por um juiz, pessoa soberana a quem todos os mordomos obedecem, geralmente nomeado pela mordomia. Segundo o testemunho de um ex-mordomo, Senhor António Luís, geralmente é uma das pessoas com mais idade ou carismático.
Os mordomos não são eleitos e a sua responsabilidade na comissão das festas é cíclica mudando anualmente ou de dois em dois anos. A integração na Mordomia pode, também, ser feita por promessa respeitada pelos demais. Cabe ao Juiz orientar o caminho que julga ser o melhor para a mordomia. Constituída por 12 a 15 mordomos [até cerca de 20, do género masculino e com distintos backgrounds sociais] entram através de promessa. Os mordomos reúnem regularmente, ao longo do ano. A preparação da festa começa quando a anterior termina. A última palavra é sempre dada pelo juiz, apesar de todos participarem no processo da decisão. Mas, cabe ao Juiz o comando das decisões. Ele é o elo de ligação entre todos ” (Lopes, 2011, p. 9).
A atividade da Mordomia reveste-se de um certo secretismo (Lopes, 2011), cuja observação é possível nos “momentos altos da celebração, como também (…) [nos] momentos dramáticos (…) vividos não apenas no círculo alargado dos visitantes, mas também no círculo mais restrito da mordomia. Entre estas tradições e rituais de celebração festiva encontram-se o arremessar das cavacas, a dança dos mancos e o cortejo de entrega do ramo ou passagem de testemunho aos novos mordomos, sendo que a dança dos mancos se assume como o momento dramático mais intenso. Nesta conceção é ainda possível incluir as arruadas (género de procissão, onde os mordomos percorrem as ruas do Bairro da Beira-Mar acompanhados por uma banda, dançando e cantando junto à porta das casas dos habitantes locais)” (Lamego, 2014, p. 62).
Na sua atividade, a Mordomia encontra suporte financeiro aos festejos através de oferendas dos devotos e pelo apoio de empresas regionais e da Câmara Municipal de Aveiro. Desde o início do presente século, organiza também eventos de carácter diverso durante todo o ano – São Gonçalinho Street Arts Fest, peditórios, leilões de litografia, festivais culturais e festas, eventos desportivos, entre outros – mantendo estes, no entanto, o seu carácter alusivo aos festejos de São Gonçalinho. Estes procuram não só angariar fundos para a realização da festividade principal, em janeiro, como também difundir a cultura regional e atrair novos devotos. Os mordomos não recebem qualquer tipo de compensação monetária pelos seus serviços.
A 10 de janeiro de 2019 – dia de São Gonçalinho – a Mordomia de São Gonçalinho e a Câmara Municipal de Aveiro, juntamente com a Paróquia da Vera Cruz, de Aveiro, formalizaram a submissão da candidatura das Festas em honra de São Gonçalinho a Património Imaterial, para a futura integração das mesmas no inventário nacional (Matriz PCI).